A APED organizou, na passada sexta-feira – data em que se assinalou o Dia da Logística –, uma sessão dedicada ao tema “Logística e Transportes”. Inserida no âmbito do Roteiro para a Descarbonização, a iniciativa teve como objetivo refletir sobre a visão do projeto e das empresas do setor para 2030, 2040 e 2050, no contexto da descarbonização da logística e dos transportes. Pretendeu-se, assim, criar um momento de partilha entre as empresas do setor e os diversos intervenientes nas suas cadeias de valor, abordando os milestones esperados no âmbito da descarbonização, de forma a identificar as principais barreiras e oportunidades.
Gonçalo Lobo Xavier deu início à sessão e saudou a criação da nova Secretaria de Estado do Turismo, Comércio e Serviços – uma mudança que considera crucial para garantir uma atenção dedicada e focada nos desafios e oportunidades únicos do setor do comércio e dos serviços, contribuindo para uma economia portuguesa mais dinâmica e resiliente. O Diretor-Geral da APED considera que esta alteração permitirá também uma compreensão mais aprofundada de temas que têm concentrado os esforços das empresas, entre os quais se destaca a descarbonização.
Cristina Câmara, Diretora de Sustentabilidade da APED, sublinhou que a Associação acredita que as empresas do setor devem alinhar-se com a ciência e com a ambição do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC, reduzindo as suas emissões em, pelo menos, 90% até 2050. Esta transição para uma economia de baixo carbono traz desafios ao setor, dado que a maioria das emissões de gases com efeito de estufa das empresas provém da sua cadeia de valor, sendo a logística uma das principais fontes indiretas de emissões para muitas delas. Neste âmbito, é necessária uma estreita colaboração com outros setores, especialmente com o setor logístico, para a implementação de ações estruturadas e estratégias de descarbonização.
Seguiram-se as intervenções de Hélder Pedro, Secretário-Geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP); Bruno Veloso, Vice-Presidente da Agência para a Energia (ADENE); Pedro Polónio, Presidente da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM); Afonso Almeida, Presidente da Associação Portuguesa de Logística (APLOG); e Cláudia Simões, Coordenadora de Desenvolvimento Sustentável da Luís Simões, que destacaram os desafios e as oportunidades associadas à aceleração da transição do setor, bem como alguns projetos criados neste âmbito.
Hélder Pedro começou por destacar que Portugal tem um parque automóvel muito envelhecido. Há 1,6 milhões de veículos com mais de 20 anos, sendo a idade média de 14,1 anos. São carros poluentes que a ACAP quer retirar das estradas, propondo a criação de um verdadeiro programa de incentivo para abater 40 mil veículos, atribuindo apoios à compra de carros novos de baixas emissões, ou seja, não apenas elétricos. O objetivo passaria pela poupança energética de 3,2 milhões de litros de combustível por ano, o equivalente a 33.200 barris de petróleo.
Por sua vez, Bruno Veloso abordou o “Roteiro da Indústria: da Teoria à Eficiência”, uma iniciativa lançada em parceria com a CIP – Confederação Empresarial de Portugal, que visa promover a eficiência energética nas empresas, contribuindo para uma indústria mais sustentável, inteligente e eficiente. Esta iniciativa centra-se na importância da eficiência energética como fator determinante na descarbonização da economia, incentivando a partilha de boas práticas entre empresas de diferentes setores e divulgando casos de sucesso que possam servir de exemplo para a adoção de práticas eficientes, impulsionando a inovação em toda a indústria nacional.
Já Pedro Polónio apontou os combustíveis alternativos, a otimização logística, os veículos e condutores eficientes, e a aposta na mobilidade coletiva como os principais pilares para a descarbonização. Por sua vez, Afonso Almeida reforçou a necessidade de um maior investimento para alcançar a excelência logística, centrada na gestão integrada do fluxo de materiais e do respetivo fluxo de informação.
A última intervenção, de Cláudia Simões, destacou que a palavra-chave para a descarbonização no setor da logística é eficiência, algo que só se alcança com investimento. Sublinhou ainda que a principal prioridade é encontrar uma solução que permita continuar a servir os clientes, alcançando zero toneladas de CO₂ até 2040. Neste contexto, reforçou que este processo só poderá ser bem-sucedido através da definição de metas concretas, que, por sua vez, dependem da quantificação rigorosa das emissões.